Acredite se quiser: uma pessoa não tem necessariamente que morar ao lado de uma indústria química para ser contaminada. Aí está um outro grande problema dos POPs. Uma vez liberados na natureza, podem viajar por correntes aéreas e pela água para regiões distantes de suas fontes de origem. E o pior: mantendo sua capacidade contaminante. Os solos também podem ser intoxicados, atingindo a produção de alimentos.
A maior parte dos resíduos produzidos pelas indústrias são despejados em rios. Quase todos acabam, cedo ou tarde, desaguando nos mares. Devido às correntes marítimas, as águas de todos os oceanos acabam passando pelos Pólos. É através deste movimento cíclico e contínuo das águas que os poluentes atingem os pontos mais distantes e ermos do planeta. Dessa forma, contaminam, ao longo do percurso, a flora e a fauna marinhas, como os leões-marinhos e as focas, por exemplo.
Outro exemplo da capacidade dos POPs de se espalharem pelo meio ambiente: um estudo da Universidade de Alberta (Canadá) indicou que os POPs também alcançam os topos das montanhas geladas. Amostras de neve coletadas entre 770m e 3.100m de altura de montanhas canadenses isoladas continham elevadas concentrações de poluentes persistentes. Os tóxicos foram depositados por massas de ar poluído, provavelmente oriundas de regiões industriais.
Efeitos na saúde humana
Os POPs produzem uma ampla gama de efeitos tóxicos em animais e seres humanos, inclusive nos sistemas reprodutivos, nervoso e imunológico, além de causarem câncer. Muitos destes efeitos ocorrem porque alguns poluentes são capazes de mimetizar ou bloquear determinados hormônios, particularmente hormônios sexuais. Além de afetar enzimas que controlam as reações bioquímicas no organismo. Existem POPs que também atingem os neurotransmissores, substâncias químicas do sistema nervoso, assim como as células do sistema imunológico.
Expor uma gestante a estas substâncias pode provocar a morte do feto e aborto espontâneo, diminuição de peso e tamanho ao nascimento, alterações de comportamento e rebaixamento da inteligência. Outras conseqüências são depressão do sistema imunológico, redução da resistência óssea e efeitos no sistema reprodutivo. Muitos poluentes estão associados ao surgimento de alguns tipos de câncer, como câncer de fígado, no trato digestivo, no pâncreas, no pulmão, na mama, entre outros.
Efeitos na vida selvagem
Em várias partes do mundo, os POPs têm sido responsabilizados pelo declínio de populações da fauna selvagem. Relacionou-se estas substâncias com o aumento do número de deformidades e morte de embriões, a feminilização de machos, o déficit de desenvolvimento dos órgãos sexuais, a infertilidade e o comportamento anormal no cuidado com as crias. Algumas espécies de pantera, por exemplo, apresentaram defeitos reprodutivos e de desenvolvimento e anomalia em espermatozóides. Afinamentos nas cascas dos ovos do falcão peregrino foram detectados e uma espécie de trutas canadenses sofreu morte embrionária.
POPs no Brasil
De acordo com relatório publicado pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas em 1998, o Brasil não produz industrialmente nenhum dos 10 POPs seguintes:
aldrin; heptacloro; clordano; hexaclorobenzeno; DDT; mirex; dieldrin; PCBs; endrin; toxafeno.
Já as dioxinas e os furanos, por serem considerados subprodutos, são produzidos de forma não intencional e sem controle legal.
Em maio de 2001, noventa países, inclusive o Brasil, assinaram um Tratado Internacional de Banimento dos doze POPs considerdos mais perigosos para o meio ambiente e a saúde pública, em Estocolmo/Suécia.
O caso da contaminação de cal por dioxinas na fábrica da empresa Solvay, no Município de Santo André, Estado de São Paulo, ilustra bem essa situação. A cal contaminada por dioxinas no processo industrial só foi descoberta após uma série de investigações feitas pelo Greenpeace juntando dados da Alemanha e do Brasil. Tudo começou quando o Governo alemão diagnosticou contaminação por dioxinas no leite de vacas. Descobriu-se então que na ração que alimentava essas vacas estava presente como ingrediente a polpa cítrica importada do Brasil. Foi investigando a polpa cítrica que o Greenpeace chegou até a cal contaminada que era utilizada na industrialização da polpa cítrica e era produzida pela Solvay, uma multinacional Belga. Em dezembro de 1999 a Solvay assinou um acordo com o Ministério Público de Santo André, CETESB e com o Greenpeace, em que se obriga a descontaminar o leito do Rio Grande e o seu depósito de 1 milhão de toneladas de cal contaminada com dioxinas, além de construir uma barreira de emergência para conter o vazamento de material tóxico para o meio ambiente.
Outro caso semelhante foi a queima de aparas industriais de PVC resultantes do processo de produção de carros FIAT, no Município de Formiga, em Minas Gerais. A queima destes resíduos industriais de PVC em fornos para fabricação de cal gerou a contaminação da cal. Estudos estão sendo feitos pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em Formiga para quantificar a dimensão do problema causado na região.
Além da produção "indireta" de dioxinas e furanos, existe o problema de importação de alguns dos POPs. O principal deles é o heptacloro, que é utilizado como conservante para madeira. No banco de dados nacional de importação e exportação (CACEX), constam no ano de 1998 os registros de importações de 3 persistentes:
Aldrin - 18 kg
DDT - 55 kg
Heptacloro - 38 ton
O MUNDO SEGUNDO MÃO SANTO